RESUMO INTRODUÇÃO
As aves silvestres são cada vez mais condicionadas a viver em ambientes domésticos e expostos a itens encontrados em domicílio que podem ser potencialmente perigosos. Erros de manejo nutricional e ambiental são comuns e devem sempre ser questionadas no histórico clínico, devido a uma série de fatores de risco à saúde desses animais nestes ambientes, tal como a ingestão acidental de materiais tóxicos. Evolutivamente, as aves possuem uma taxa metabólica quantitativamente proporcional aos mamíferos, porém, na maioria das vezes, o tamanho da ave e a sua massa corporal é menor quando comparado com o mamífero (1,2). Portanto, o risco de intoxicação é maior quando a ave é pequena, pois mesmo a ingestão de baixas concentrações de agentes tóxicos, em especial os psitacídeos, resulta em muitas das vezes sinais clínicos de toxicose (1,3). A lei dos semelhantes serve de conduta primordial para desenvolver adequadamente a arte médica da terapia homeopática. A partir de um histórico detalhado e buscar os sintomas característicos do doente, será escolhido medicamento homeopático, na valorização dos sintomas peculiares e avaliando o que se deve curar, para, então, estabelecer um plano terapêutico (4). O presente trabalho tem como objetivo relatar a intoxicação de ave por metal pesado e a utilização de medicamentos homeopáticos por similitude etiológica.
MATERIAL / MÉTODO
Foi realizado o atendimento clínico no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), de um exemplar da espécie Aratinga aurea, conhecida popularmente como Periquito-Rei (Figura 1), aproximadamente quatro anos de idade, sem sexo definido, 105 gramas. A ave alimenta-se de sementes com predominância de girassol, frutas e ocasionalmente alimento caseiro. A ave habita ambiente doméstico, em período permanente dentro de uma gaiola pequena para pássaros. Na inspeção, a gaiola é confeccionada de metal galvanizado em deterioração pelo tempo de uso, apresenta hastes metálicas corroídas e com crostas de alimentos (Figura 2). No exame clínico da ave, foram caracterizados ligeira sonolência, tremores, movimentos laterais da cabeça, incoordenação durante marcha, fraqueza dos membros posteriores com dificuldade de empoleirar. O apetite foi mantido. As fezes estavam de coloração verde-amarela, espumosa e em quantidades maior que o normal para a espécie (Figura 3). Não foram detectados corpos estranhos radiopacos no exame radiográfico de corpo inteiro nas posições ventrodorsal e laterolateral. O tratamento homeopático foi administrado o complexo Aluminum metallicum 6CH, Plumbum metallicum 6CH e Zincum metallicum 4CH, segundo o método centesimal. Utilizou-se como insumo inerte do complexo preparado a glicerina 30% diluída em água purificada (1:1). Institui-se o tratamento por via oral, com gotejamento na parte inferior do bico, na dosagem de três gotas, três vezes ao dia, durante um período de sete dias, para reavaliação. Logo, nas primeiras 72 horas, após o início do tratamento, todos os sintomas neurológicos haviam desaparecido. As fezes voltaram à coloração e em quantidade normal para a espécie no sexto dia do tratamento. Após retorno em 15 dias, a ave não apresentava sinais de intoxicação e o tratamento foi suspenso quando completou 30 dias.
RESULTADO
É frequente o uso de gaiolas metálicas galvanizadas que possuem concentração elevada de chumbo, zinco e outros metais. O contato com as hastes de metal da gaiola metálica são constantes em psitacídeos, devido a seu comportamento de curiosidade e a forma de movimentar dentro da área da gaiola, às vezes, com o auxílio do bico (1,2). Mudança na alteração da cor das fezes e sinais neurológicos são comumente encontrados em aves intoxicadas por metais pesados. Com interesse clínico destacam-se o chumbo e o zinco (1,2,3). A inspeção da gaiola da ave consultada indica que o animal ingeria metal pesado de modo crônico, de acordo com os sinais clínicos observados. Os sinais neurológicos foram os mais evidentes na ave, contudo os sintomas podem variar dependendo da quantidade ingerida de metal, que incluem também sinais gastrintestinais e hematopoiéticos (5). O tratamento foi baseado na similitude etiológica que um método de medicar homeopaticamente. A consideração do agente causador do quadro toxicológico, neste caso, intoxicação por um ou mais metais pesados, foi imprescindível para a cura da ave. Aluminum metallicum, Plumbum metallicum, Zincum metallicum são medicamentos de origem mineral cujos sintomas em comum são tremores generalizados, fraqueza e depressão nervosa (4). A indicação destes medicamentos no tratamento foi pela semelhança das substâncias tóxicas, metais pesados o qual a ave teve contato. A administração de diluições infinitesimais de uma substância foi capaz de induzir a eliminação das mesmas substâncias que estiver armazenada no organismo (6). A similitude etiológica é um caso particular do Similia Similibus Curantur, já que refere a um setor particular da semelhança. Metais pesados, em especial o chumbo e mercúrio formam ligantes com grupos sulfidrila do sistema enzimático piruvato-oxidase. O tratamento comumente utilizado nas aves intoxicadas é administração do edetato dissódico de cálcio (CaEDTA), porque tal substância possui maior afinidade pelos metais pesados, que reverte a inibição enzimática pela quelação do metal e evita os efeitos tóxicos (2). Entretanto esta substância não foi utilizada na ave devido a eficiência do tratamento homeopático. O uso de glicerina em solução aquosa como insumo inerte foi para substituir o uso de solução alcoólica e de glóbulos, cujo propósito é evitar a intoxicação por etanol e facilitar a administração do medicamento, por se tratar de uma ave pequena e de difícil manuseio por proprietários inexperientes. O tratamento homeopático pela associação de Aluminum metallicum, Plumbum metallicum e Zincum metallicum se mostrou eficaz na remissão dos sintomas de intoxicação por metal pesado da ave.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1- Godoy SN. Psittaciformes (Arara, papagaio, periquito). In: Cubas ZS, Silva, JCR, Catão-Dias JL. Tratado de Animais Selvagens. 1ª ed. São Paulo: Roca; 2007, p. 222-251.
2- Lightfoot, TL, Yeager JM. Pet bird toxicity and related environmental concerns. Veterinary Clinics Exotic Animal Practice 2008; 11(2): 229-259.
3- LaBonde JR. Poisoning in the avian patient. In: Peterson ME, Talcott PA. Small Animal Toxicology; 3th ed. St. Louis: Elsevier; 2013. p. 259-273.
4- Lathoud, JA. Estudos de matéria médica homeopática. 3ª ed. São Paulo: Organon; 2010.
5- Lichteneberger M, Richardson JA. Emergency care and managing toxicoses in the exotic animal patient, Veterinary Clinics Exotic Animal Practice 2008; 11(2): 211–228.
6- Fonte Ol, Farhat FCLG, Cesar AT, Lara MG, Montebelo MIL, Rodrigues GCG et al. The problem of dose in homeopathy: evaluation of the effect of high dilutions of Arsenicum album 30CH on rats intoxicated with arsenic. International Journal of High Dilution Research 2010; 9(33):128-137.
Palavras-chave: aves silvestres, toxicose, psitacídeos