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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DE PÊNFIGO FOLIÁCEO EM CÃO DOMÉSTICO

Maria Leonora Veras de Mello (UNIFESO) Denise de Mello Bobany (UNIFESO) Ruthinha Pereira Dantas Saraiva (autõnomo)

RESUMO INTRODUÇÃO

O pênfigo ou penfigóide, embora seja o tipo mais comum de dermatopatia autoimune em cães e gatos, faz parte de um grupo raro de doenças, de origem geralmente idiopática, caracterizada pela produção de auto-anticorpos1. Em estudo feito por Machado et al.2 no Departamento de Patologia da Clínica-escola de Botucatú – SP no período de 1977 a 2007, de 1599 diagnósticos histopatológicos de dermatopatias veterinárias, apenas 1,2% foram confirmadas para pênfigo foliáceo.
As lesões primárias são pústulas superficiais frágeis que se rompem facilmente em erosões superficiais, com crostas, escamas, colaretes epidérmicos e alopecia. São localizadas mais comumente na cabeça, no plano nasal, pavilhão auricular e coxim plantar se iniciando, frequentemente, com despigmentação na ponte nasal, ao redor dos olhos e no pavilhão auricular com prurido variável 3.
O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um canino doméstico no qual, através de sintomas e biopsia diagnosticou-se pênfigo foliáceo. O tratamento convencional a base de corticosteróides e antibióticos não resultou em melhora da enfermidade, mas suscitou efeitos colaterais e queda do estado geral, sendo necessária suspensão do mesmo. Foi então introduzido um novo tratamento, através de um complexo homeopático de medicamentos e um nosódio, junto com baixa dosagem de metilprednisolona, tendo então sucesso. O tratamento iniciou-se no ano de dois mil e nove e com ele houve melhora da condição clínica, além de remissão sintomática do pênfigo com persistência desde então do bem estar e qualidade de vida.

 

MATERIAL / MÉTODO

Em março de 2009 foi atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária do UNIFESO, situada Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro, um canino da raça Dachshund de nome Lion com 5 anos. De acordo com as informações do proprietário, o animal era vacinado, vermifugado, vivia solto em quintal com jardim e era alimentado com ração comercial. O motivo da consulta foi o fato de o animal vir apresentando há poucos dias, lesões descamativas no focinho (fig. 1A) semelhantes a queimadura de sol. Nessa ocasião foi indicado o uso do protetor solar.
Passados cinco meses, as lesões alastraram-se para as pálpebras, acompanhadas de muita coceira que levava ao sangramento. O quadro se agravou e durante a consulta foi verificado que o animal passou a apresentar hiperceratose nos coxins, as lesões no nariz e ao redor dos olhos aumentaram em número e tamanho, associado ao aumento da alopecia (fig. 1B) e surgiram pústulas pelo corpo. Por estar prostrado e desidratado foi submetido a soroterapia endovenosa e antibióticoterapia. Foi realizada biópsia obteve-se o laudo de dermatite caraterizada por pustulose folicular intensa com acantose focal compatível com pênfigo foliáceo folicular (fig. 2 A e B).
Diante desse resultado, foi estipulado o tratamento com crescentes doses de metilprednisolona até 40 mg ao dia4, mas com resultados insatisfatórios após um mês e meio de tratamento, porém com os efeitos colaterais indesejáveis da corticoterapia.
Optou-se pelo tratamento homeopático, segundo informações de Darden5, concomitante à redução da corticoterapia, sendo utilizado um composto com Hura brasiliensis 6CH, Kali sulphuricum 6CH, Mezereum 6CH, Mulungu 12DH, Oleander 5CH, Rhus tox 3CH, Ranunculus Sceleratus 3CH em tabletes de lactose administrados na dose de 2 tabletes três vezes ao dia.
Para complementar o tratamento foram prescritos oito papéis de Bacillinum 30CH, um por semana.

 

RESULTADO

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após um mês de uso da homeopatia, iniciou-se a redução gradual e lenta do corticóide, dessa vez, com sucesso (fig. 3 C e D). Os medicamentos homeopáticos foram prescritos após repertorização, e não a partir da doença. A repertorização foi realizada a partir de sintomas físicos e psicológicos relevantes do paciente e então ser associados aos medicamentos homeopáticos buscando respeitar o princípio da semelhança, conforme Barbosa, Del Nero & Ambrosio5.
É importante que se compreenda que a troca ou introdução concomitantemente de um tratamento homeopático na terapia alopática não é apenas uma opção terapêutica, mas uma mudança de paradigmas fundamentais. Filosoficamente a alopatia trata a doença, e a homeopatia, o doente. A homeopatia desperta os mecanismos de defesa do paciente, funcionando como um imunomodulador, reconduzindo-o a homeostasia de acordo com Egito 6.
O animal continua em uso continuo da homeopatia, com apenas uma administração diária de dois tabletes do mesmo composto original, e eventualmente faz pulsoterapia com metilprednisolona 7,5 mg 3 vezes por semana, junto com a recomendação de não ficar exposto ao sol, mantendo bom estado geral, e sem a sintomatologia da enfermidade nem efeitos colaterais dos corticosteroides (fig.4).


CONCLUSÃO
O tratamento tradicional utilizado no presente caso, mantido dentro dos protocolos apresentou uma resposta terapêutica insuficiente, seguida de muitos e deletérios efeitos colaterais. A introdução da terapêutica homeopática melhorou o estado geral do animal e permitiu a diminuição das doses de glicocorticóides, minimizando seus efeitos colaterais e acrescentando qualidade de vida ao paciente.
Embora ainda cause impacto um médico veterinário utilizar terapias vitalistas em sua vida profissional, percebe-se que os animais são os melhores álibis para a ciência e arte da Homeopatia, pois eles se curam sem qualquer possibilidade de indução psicológica ou fingimento. Embora ainda sem comprovação definitiva de terapêutica homeopática eficaz para o pênfigo foliáceo, o efeito benéfico, no caso relatado foi real, perceptivo nos exames laboratoriais e de imagem e, sobretudo, na sensação de bem estar geral manifestado pelo animal.
Clinicamente o paciente vem levando uma vida normal e saudável, a partir da utilização dos medicamentos homeopáticos dentro de escolhas que se coadunam com o pensamento do Dr. Hahnemann, isto é ainda é portador de uma doença crônica, mas alcançou a homeostasia suficiente para uma vida normal.
Esse trabalho foi protocolado pela Comissão de Ética do UNIFESO-RJ sob o número 284/2010 em 05/03/2010. O animal, tratado pela Homeopatia desde 2009, encontra-se com a enfermidade controlada desde então.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1 BARBOSA MVF, FUKAHORI FLP, DIAS MBMC, LIMA ER. Patofisiologia do Pênfigo Foliáceo em cães: revisão de literatura. Medicina Veterinária 2012; 6(3):26-31.
2 MACHADO LHA, FABRIS VE, TORRES NETO R, RODRIGUES JC, OLIVEIRA FC. Histopathology in veterinary dermatology: Historical records of thirty years of diagnosis at the Department of Pathology of Botucatu Medical School, UNESP (1977-2007). Vet. e Zootec. 2012;19(2):222-235.
3 MENDLEAU L, HNILICA KA. Dermatologia de pequenos animais: atlas colorido e guia terapêutico. 2ª ed. São Paulo – SP: Editora Roca; 2009.
4 RHODES KH. Doenças Imunomediadas Sistêmicas. In: BICHARD SJ, SHERDING RG. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 3ª ed. São Paulo – SP: Roca; 2008. p. 501- 82.
5 BARBOSA AS, Del NERO B, AMBROSIO CE.Terapia Homeopática em Dermatopatias em Gatos – Revisão de Literatura. Acta Veterinaria Brasilica,2013; 7 (1): 29-37.
6 EGITO JL. Homeopatia - Introdução ao Estudo da Teoria Miasmática. 3ª ed. São Paulo: Editora Robe;1999.

 

Palavras-chave: Auto-imunidade. Canis familiaris. Homeopatia.



ANEXOS
Figura 1 A e B Leonora
Figura 2 – (A) Microfotografia da pele mostrando a acantólise. (B) Microfotografia da pele mostrando células acantolíticas
Figura 3 C e D
Figura 4 - Lion em excelente estado geral dezembro de 2014
Figura 4 - Lion em excelente estado geral dezembro de 2014