RESUMO INTRODUÇÃO
A aquicultura é uma atividade em expansão no Brasil, tanto pelo aumento da demanda pelo pescado, quanto pelo potencial produtivo do país para esta atividade. Neste contexto, a Tilápia do Nilo é a espécie mais cultivada da aquicultura continental em todo o país (47% da produção total em 2011).
Visando o aumento dos lucros, os produtores praticam altas densidades populacionais (cerca de 100 peixes/m3 ou mais), e esta situação, além de contribuir para a perda da sanidade dos planteis, constitui também um fator estressante para a espécie, pois a Tilápia do Nilo é uma espécie territorial e não gregária.
Os cultivos comerciais possuem populações exclusivamente masculinas, obtidas através da técnica de reversão sexual em pós-larvas. Os machos da espécie são territoriais, estabelecendo ninho e defendendo-o da presença de outros machos. Desta forma, em grupos exclusivamente masculinos, confinados em espaços pequenos, forma-se uma hierarquia entre os indivíduos do grupo, expressa pela cor corporal e comportamento – os dominantes apresentam-se com o corpo e íris mais claras e ocupam a parte inferior do viveiro, com acesso ao substrato para o ninho, enquanto os subordinados possuem coloração mais escura do corpo e da íris e ficam restritos à região próxima da superfície. Os dominantes mantém seu status através de interações agressivas, dirigidas aos demais membros do grupo, causando, além do estresse crônico, lesões e perda da condição corporal (1). Este estresse crônico contribui decisivamente para o déficit de desenvolvimento observado em animais cultivados em altas densidades, pois interfere diretamente na secreção dos hormônios de crescimento (GH) e hormônios tireoidianos.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a ação dos medicamentos Sulphur 6CH e Calcarea carbonica 6CH sobre os parâmetros zootécnicos e comportamentais de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) variedade GIFT, cultivada em ambiente de laboratório.
MATERIAL / MÉTODO
O estudo foi realizado no Laboratório de Aquicultura da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense. Foram utilizados 102 exemplares de Tilápia nilótica GIFT, divididos em dois experimentos, cada um com 3 grupos (Sulphur 6CH (S), Calcarea carbonica 6CH (C) e controle (CT)). Os animais foram cultivados desde alevinos até a fase adulta (9 meses no primeiro experimento, 6 meses no segundo).
Os animais foram alojados em aquários de vidro de 200 L no primeiro experimento, com densidade de 80 peixes/m3, transferidos para aquários de 600L a partir do 6° mês, com densidade de 22 peixes/m3. O segundo experimento foi totalmente conduzido nos aquários de 600L. A mudança no primeiro experimento ocorreu pela necessidade de maior espaço para os peixes em crescimento.
Os medicamentos foram fornecidos em forma de pó de lactose adicionado à ração, semanalmente para alevinos e juvenis, quinzenalmente para adultos.
Os parâmetros zootécnicos foram aferidos com intervalos de 30 dias, através de exames biométricos, avaliando os parâmetros: comprimento total, comprimento padrão, altura, espessura da cavidade celomática e peso. Também foram calculados o peso total, o ganho de peso total entre biometrias e o ganho de peso médio entre biometrias (2). Foram realizados sete exames biométricos no primeiro experimento, e quatro exames biométricos no segundo experimento.
O comportamento foi avaliado pela observação diária dos grupos, avaliando o número de animais dominantes em cada grupo, a presença ou não de estratificação territorial no grupo, a coloração do corpo e da íris dos indivíduos de cada grupo, e a frequência de interações agressivas entre membros dos grupos. Estas interações agressivas foram identificadas, de acordo com etograma estabelecido para a espécie (3).
Os parâmetros biométricos foram analisados estatisticamente, utilizando-se os testes Kruskal-Wallis (5%) e Mann-Whitney (2%).
RESULTADO
Experimento 1 - Sem diferença estatística nos parâmetros biométricos, mas os grupos S e C possuíam tendência diferente de crescimento, com ganho mais rápido de peso entre biometrias (peso total e peso médio). Ao final, os grupos S e C obtiveram maior peso total em comparação a CT (Figuras 1, 2 e 3).
Comportamento:
* CT - Mais agressivo;
- Disputas territoriais intensas, ataques constantes dos dominantes contra subordinados;
- Pigmentação hierárquica marcada;
- Estratificação territorial clara – dominantes próximos do fundo, subordinados próximos da superfície (Figura 4A);
- Subordinados com perda de escamas, nadadeiras erodidas, áreas hiperêmicas, má condição corporal, pouco apetite e ritmo de batimentos operculares aumentado (Figura 4B);
- 5 dominantes na fase juvenil, 4 na fase adulta;
- Perda de 5 indivíduos.
* S - Menor agressividade, interações agonísticas menos violentas;
- Menos estratificado e mais disperso (Figura 4C);
- Pigmentação hierárquica menos marcada;
- Todos os indivíduos em boa condição corporal (escamas brilhantes, nadadeiras íntegras);
- Sem perdas;
- 3 dominantes na fase juvenil, 1 na fase adulta.
* C - Grupo menos agressivo;
- Sem estratificação – grupo reunido no fundo do aquário (Figura 4D);
- Pigmentação hierárquica muito menos marcada;
- Apresentava medo do manejo, com reações de fuga e natação errática;
- Mudança no 6º mês – presença de estratificação territorial, mas sem agressividade nem indivíduos lesionados.
- Sem perdas;
- 3 dominantes na fase juvenil, 3 na fase adulta.
Experimento 2 - Sem diferenças comportamentais e sem diferenças estatísticas nos parâmetros biométricos. A tendência de crescimento verificada se manteve (Figuras 1, 2 e 3).
CT expressou o comportamento da espécie em altas densidades populacionais, com interações agonísticas violentas resultando em perda da condição corporal e menor ganho de peso. Este prejuízo ao desenvolvimento advém tanto do estresse crônico comportamental, quanto pela influência deletéria dos hormônios do estresse sobre os hormônios do crescimento e tireoidianos (4). O estresse crônico e a perda da integridade física podem ter concorrido para as perdas neste grupo. S e C, ao demonstrarem menor agressividade e estratificação territorial, podem ter sofrido em menor escala os efeitos do estresse comportamental, possibilitando o melhor desenvolvimento e sobrevivência. Isto justifica o melhor ganho de peso total e médio, mesmo em altas densidades. Em baixas densidades, nas quais o estresse comportamental não é um problema (experimento 2), a tendência se manteve, indicando que os medicamentos homeopáticos podem concorrer também para melhor assimilação e conversão alimentar, resultando em melhor desenvolvimento.
Sulphur e Calcarea carbonica podem amenizar o estresse comportamental em altas densidades populacionais de O. niloticus, advindo possível uso em criações comerciais com o objetivo de melhorar o bem estar e aumentar a sobrevivência e a produtividade dos planteis
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1 – Volpato GL, Luchiari AC, Duarte CRA, Barreto RE, Ramanzini GC. Eye color as an indicator of social rank in the fish Nile tilapia. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, 2003; 36 (12). Disponível em: URL: http://www.scielo.br/pdf/bjmbr/v36n12/5084.pdf. Acesso em mar.2014.
2 – Afonso-Dias M. Amostragem tamanhos e pesos. Biologia Marinha – FCMA Universidade do Algarve. 2008. Disponível em: URL: http://w3.ualg.pt [2013 abr. 21]
3 – Mendonça FZ, Gonçalves de Freitas E. Nest deprivation and mating success in Nile Tilapia (Teleostei : Cichlidae). Revista Brasileira de Zoologia [periódico online] 2008; 25 (3). Disponível em: URL: http://www.scielo.br [2013 out. 16]
4 – Vijayan MM, Aluru N, Leatherland JF. Stress response and the role of cortisol. In: Leatherland, JF, Woo PTK. Fish Diseases and Disorders: Non Infectious Disorders. 2th ed. Oxford: CABI Publishing; 2010. p 182-95.
Palavras-chave: Oreochromis niloticus, homeopatia, comportamento