RESUMO INTRODUÇÃO
A rinite viral em felinos é uma doença prevalente, cuja etiologia, em 80 a 90% dos casos de infecção do trato respiratório superior, corresponde ao Herpesvírus felino (FHV-1) e o Calicivírus felino (FCV). Os sinais clínicos iniciais são espirros, conjuntivite e secreção ocular e nasal, a qual passa de serosa a mucopurulenta com o desenvolvimento da inflamação. Esta condição, em geral, persiste por 2 a 3 semanas. Em menor frequência, as rinites em felinos também podem ser causadas por fungos, principalmente o Cryptococcus neoformans nos climas tropicais; outros fungos, de caráter oportunista são o Aspergillus spp. e o Penicillium spp. (1). A forma crônica tem origem na infecção por bactérias após a inflamação e agressão das mucosas nasais e dos seios nasais. Os sintomas da forma crônica são mais graves, havendo secreção purulenta abundante, espirros paroxísticos e respiração estertorosa pela boca. O tratamento alopático envolve o uso continuado de antifúngicos, antibióticos e corticoides, mas os resultados são insatisfatórios na grande maioria dos casos e a ocorrência de cura é rara (2).
Na visão da Homeopatia, as moléstias inflamatórias que acometem as mucosas, caracterizadas por secreção abundante, pertencem à esfera diatésica da Sicose. A abordagem da Homeopatia Sistêmica considera que este aspecto inflamatório da Sicose deva-se à deficiência na produção de anticorpos IgAS (IgA secretor), protetores de mucosas, fazendo com que estas sejam mais vulneráveis à ação dos microrganismos patogênicos e à cronificação dos processos infecciosos locais (3).
O objetivo deste trabalho é avaliar os resultados do tratamento homeopático sistêmico em um felino adulto portador de rinite bilateral crônica.
MATERIAL / MÉTODO
Felino, raça Persa, sexo masculino, 3 anos de idade. Atendido no setor de Homeopatia do Hospital Universitário Veterinário Firmino Mársico Filho (Faculdade de Veterinária - Universidade Federal Fluminense). O animal apresentava moléstia respiratória crônica desde os 4 meses de idade, caracterizada por secreção mucopurulenta abundante. Decorreu após a instalação de um quadro agudo respiratório (rinotraqueíte). O animal foi submetido a tratamento com enrofloxacino (40 dias), além de antifúngicos e corticoides por um ano continuamente. Na consulta inicial, o uso de antibióticos não propiciava qualquer melhora, e o animal passou a emagrecer e apresentar vômito, desenvolvendo gastrite.
O animal havia sido submetido à tomografia computadorizada, a qual diagnosticou rinite bilateral e uma variação conformacional congênita dos seios frontais e labirinto etmoidal, com assimetria e ausência parcial das trabeculações do labirinto etmoidal. Os seios frontais foram vistos como hipoplásicos e assimétricos (Figura 1). Exames radiográficos do tórax evidenciaram broncopatia e exames laboratoriais demonstraram alterações (anemia, leucopenia, neutrofilia, linfopenia, alterações em ALT, AST, ureia e creatinina).
No exame clínico, o animal apresentava pelagem eriçada e sem brilho, respiração estertorosa, adinamia, com secreção nasal mucopurulenta que piorava com mudanças de clima. Esta secreção era espessa, filamentosa e endurecia ao contato com o ar (Figura 2). A ausculta pulmonar era ruidosa.
Foram prescritos Hippozaeninum 30CH, TID, como bioterápico (circunstancial); Hydrastis canadensis 6CH, na mesma frequência, utilizado como um medicamento drenador das secreções e Kali bichromicum 6CH na mesma frequência, como medicamento sistêmico, escolhido pelas eliminações mucosas características da Sicose e pela totalidade dos sintomas. Após 30 dias de medicação, Hydrastis canadensis foi substituído por Dulcamara 6CH, na mesma frequência, devido à característica da piora em mudanças de clima.
RESULTADO
RESULTADOS
Após 30 dias de medicação, o animal melhorou consideravelmente, apresentando secreção escassa, menos densa e mais clara. Aos 60 dias pós primeira consulta, o felino demonstrou mudanças em sua condição corporal - ganho de peso e melhora da pelagem – e em sua disposição, apresentando-se mais ativo. A secreção havia escasseado ainda mais. Após 90 dias, a secreção nasal havia cessado totalmente, e não havia recidivas mesmo em mudanças de clima (Figura 3). A condição corporal e a disposição do animal continuaram normais, assim como a ausculta pulmonar, sem estertores ou ruídos. Atualmente, o animal encontra-se estável, sem recidivas, mesmo em mudanças de clima e sem medicação.
DISCUSSÃO
A infecção respiratória inicial, desencadeada por vírus do Complexo Respiratório Felino, cronificou-se primeiramente devido à uma tendência sicótica do indivíduo, que propiciava a continuidade do processo inflamatório desencadeado por microrganismos. O animal ora tratado, seguindo a tendência da raça Persa, possui características do biótipo Carbônico, e assim, a tendência ao desenvolvimento da Sicose é compatível (3). Concomitante à ação diatésica, as alterações congênitas nos seios frontais e labirinto etmoidal provavelmente dificultavam a exoneração das secreções resultantes e assim, a regeneração das mucosas, permitindo cronificação do distúrbio.
Os resultados verificados podem ter sido alcançados pela ação dos medicamentos homeopáticos sobre a totalidade do sistema e no auxílio à drenagem das secreções acumuladas em seios frontais. De acordo com a Homeopatia Sistêmica, o caso em questão se trata de um distúrbio de saúde intrínseco, de caráter diatésico, no qual as anormalidades anatômicas diagnosticadas no indivíduo facilitam um bloqueio emunctorial relacionado ao distúrbio de saúde. Neste caso, é necessário o emprego do medicamento drenador, que age nas vias e mecanismos de ação responsáveis pela dissipação das secreções acumuladas (3), e com este fim, utilizou-se Hydrastis canadensis e Dulcamara. Também se fez necessária a utilização do medicamento sistêmico, para agir na totalidade do organismo, escolhido pela correspondência dos sintomas para atuar principalmente na autorregulação dos sistemas dominantes, promovendo uma estabilidade (3). Cumprindo este papel tem-se o Kali bichromicum, correspondendo aos sintomas observados em sua Matéria Médica, na qual encontramos as afecções de mucosas com secreções mucopurulentas amareladas, espessas, aderentes, viscosas e filamentosas, que podem formar tampões mucosos aderentes e de difícil eliminação, além da sinusite frontal crônica (4). O medicamento circunstancial (Hippozaeninum) foi utilizado para facilitar a saída do animal do quadro agudo em que se encontrava, favorecendo a ação dos outros medicamentos acima citados.
CONCLUSÃO
O uso dos medicamentos homeopáticos de acordo com a teoria da Homeopatia Sistêmica, cumprindo função de medicamento circunstancial, drenador e sistêmico, foi eficaz no tratamento
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1 – Haagen AJV, Herrtage, ME. Diseases of the nose and nasal sinuses. In: Ettinger SJ, Feldman EC. Textboook of Veterinary Internal Medicine. 7th ed. Missouri: Saunders Elsevier; 2010. p. 1030 – 40.
2 – Kuehn NF, Taylor SM, Dyer NW, Hauptman J. Rhinitis and sinusitis in cats. In: Aiello SE. The Merck Manual Pet Edition. Kenilworth: Merck Manuals; 2015. Disponível em: URL: http://www.merckvetmanual.com.
3 – Carillo Junior R. Homeopatia, Medicina Interna e Terapêutica. 2th ed. São Paulo: Homeolivros; 2007. p. 63 – 8.
4 – Vijnovsky B. Tratado de Matéria Médica Homeopática. Vol. 2. São Paulo: Editora Organon; 2003. p. 152 – 58.
Palavras-chave: Sistemas Complexos, rinosinusite, Persa